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E se a Gestação for de Alto Risco?

  • vitorreis222
  • 6 de jun.
  • 5 min de leitura

Muitas mulheres já ouviram dizer que suas gestações foram "de risco", por algum motivo específico. Talvez por alguma condição de saúde dela ou do feto, talvez por alguma alteração de exame laboratorial, ou talvez por alguma condição de gestações anteriores. O fato é que existem alguns casos em que as gestações são sim consideradas de alto risco. Mas, aí eu te pergunto: o que é "alto risco"? E o quê exatamente isso muda no seguimento durante o pré-natal e na assistência ao parto? Alto risco é sinônimo de cesariana?


Provavelmente, essas dúvidas já surgiram na cabeça de quem já teve uma gestação de alto risco, e nem sempre elas foram esclarecidas de maneira correta. Então, hoje eu vou explicar DE VEZ o que é uma gestação de alto risco, e como isso influencia durante o pré-natal, o parto e o puerpério!


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Colocando os pingos nos "is"


Vamos começar do começo: o que é gestação de alto risco? Veja, antigamente, as gestantes eram separadas em dois grupos: o grupo do alto risco e do baixo risco. Essa nomenclatura, na verdade, é inadequada, uma vez que mesmo as gestantes que são consideradas de "baixo" risco também estão submetidas a alguns riscos durante a gestação. Exemplificando: 10% das gestantes terão um quadro de pré-eclâmpsia, talvez uma das complicações mais temidas durante a gestação. E esse não é um risco baixo que não merece atenção, muito pelo contrário!


Por conta disso, hoje em dia as gestações são classificadas em gestações de risco habitual ou de alto risco. Uma das funções primordiais do profissional de saúde durante a consulta pré-concepcional (se você não conhece sobre ele, recomendo fortemente ler a postagem A Tal da Consulta Pré-Concepcional) e o pré-natal é fazer uma estratificação de risco das gestantes, identificando potenciais riscos à gestação, com o objetivo de reduzir a morbimortalidade materna e neonatal. Essa identificação de riscos é feita durante todo o seguimento pré-natal, e a gestação pode se tornar de "alto risco" de uma hora para a outra.


Quais fatores configuram, então, uma gestação de risco? De acordo com os protocolos da FEBRASGO (Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia) e do MS (Ministério da Saúde), algumas características individuais, condições sociodemográficas, histórico reprodutivo anterior, condições clínicas prévias à gestação ou que surgem durante a gravidez fazem com que se torna de alto risco. Quer alguns exemplos?


Vamos começar com as características individuais. Gestantes em extremos de idade (abaixo de 15 anos ou acima de 40 anos), mulheres com obesidade (IMC acima de 35 kg/m²) ou baixo peso no início da gestação (IMC abaixo de 18 kg/m²), transtornos alimentares (bulimia, anorexia) e dependentes químicas (mulheres com uso excessivo de álcool, tabaco ou outras drogas) são consideradas de alto risco.


Condições de saúde como diabetes, hipertensão, doenças da tireoide, antecedente de cirurgia bariátrica, doenças hematológicas ou cardíacas...Todas configuram como alto risco também.


Por fim, condições relacionadas ao histórico obstétrico (abortamento de repetição, óbito fetal prévio sem causa especificada, pré-eclâmpsia precoce, dentre outros) ou à gestação atual (diabetes mellitus gestacional, pré-eclâmpsia, hipertensão gestacional, placenta prévia, etc) também tornam a gestação de alto risco.


E o Quê o Alto Risco tem a ver com o Pré-Natal?


Uma vez definida a gestação como alto risco, é fundamental que o seguimento pré-natal também seja feito com um obstetra experiente. Digo isso porque as obstetrizes/enfermeiras obstétricas são completamente capazes em realizar assistência pré-natal no contexto do risco habitual. Quando existe alguma condição que torna aquela gestação como alto risco, o ideal é que o obstetra avalie EM CONJUNTO a gestante para o melhor cuidado.


Em conjunto? SIM! Na minha prática clínica, vejo que, independente do risco da gestação, o pré-natal em conjunto com a enfermeira é muito melhor, tanto nos cuidados com as mulheres quanto nos desfechos gestacionais.


O que vai mudar ao longo do pré-natal vai depender do risco que aquela gestante tem. Algumas condições requerem solicitação de exames específicos (sejam eles de imagem ou de laboratório), outras requerem uma maior frequência de consultas com profissional de saúde, outras requerem assistência de outros profissionais (médicos especialistas, nutricionistas, fisioterapeutas), enfim...Vai depender muito da condição.


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Vamos dar outro exemplo prático: mulheres com diagnóstico de diabetes mellitus e que usam insulina. Essas mulheres, por conta da doença de base, necessitarão de: 1) frequência maior de consultas com o obstetra; 2) seguimento em conjunto com o endocrinologista para ajuste de medicação, principalmente nos casos de diabetes mellitus tipo 1; 3) seguimento com nutricionista para ajuste de dieta; 4) seguimento com oftalmologista para avaliação de lesão de órgão alvo do diabetes; 5) dentre outros. Dá para ver que, para garantir o melhor desfecho para essa gestante, é necessária a ação de diversos profissionais de maneira integrada!








E o Parto? Alto Risco é Sinônimo de Cesariana?


Vamos fazer um pensamento juntos, que vai servir inclusive para a maioria das indicações da cesariana (assunto que abordaremos em postagens futuras). Enquanto que o parto vaginal é um processo fisiológico, que vai ocorrer COM CERTEZA em algum momento da gestação, a cesariana é uma intervenção - cirúrgica, ainda. É um procedimento realizado no Brasil há mais ou menos 100 anos só, um tempo muito pequeno quando comparado com o parto vaginal.


A cesariana tem tem seus riscos envolvidos - maior chance de infecção puerperal, maior desconforto respiratório do bebê ao nascimento, maior chance de sangramento...Enfim, agrega mais riscos ao nascimento. Sabendo que a gestação já possui um risco agregado à sua condição, não necessitamos obrigatoriamente adicionar outro risco (no caso, um procedimento cirúrgico)! Em outras palavras, o alto risco não só não indica cesariana, como, na maioria das vezes, o parto vaginal ainda é a via mais SEGURA de nascimento.


É claro que algumas condições indicam a cesariana sem que a gestante possa entrar em trabalho de parto, mas, na prática clínica, elas são muito raras - a maioria das cesarianas são indicadas durante o parto, seja por sofrimento fetal ou por desproporção cefalopélvica (a famosa DCP).


Um fato importante a ser colocado é que nem sempre, em gestações de alto risco, podemos esperar o trabalho de parto espontâneo, necessitando de uma resolução antecipada da gestação. Cada condição tem um momento certo de resolução, decidido quando o risco de manter aquela gestação supera os benefícios do nascimento. Por exemplo, uma gestante que está no termo (mais de 37 semanas) e recebe o diagnóstico de pré-eclâmpsia merece a resolução da gestação o quanto antes - não necessariamente pela cesariana - o quadro deve ser avaliado como um todo e, na ausência de contra-indicação, a indução deve ser oferecida!


Conclusão


Pode parecer que muitas gestantes entram no alto risco, mas, são a minoria. E, mesmo quem tem um alto risco, não precisa ter medo: você só requer um acompanhamento mais individualizado pelo seu obstetra e por toda sua equipe assistente. A confiança pelo profissional é muito importante nesse momento, não só para conduzir o seu caso da melhor maneira, como também para não te enganar durante o processo assistencial!



Se você ficou com alguma dúvida dessa postagem, comenta aqui embaixo que eu te ajudo!




 
 
 

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