5 Hábitos que Atrapalham a Higiene Íntima
- vitorreis222
- há 2 dias
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Introdução
A higiene íntima feminina é, talvez, o hábito que mais sofre influência cultural. As mulheres fazem aquilo que foi ensinado pelas mães, que aprenderam com suas mães, e assim sucessivamente. E, além de todas estas práticas, elas se deparam com uma imensidão de produtos para higiene íntima na farmácia, diversos anúncios, influencers divulgando produtos, enfim...É literalmente um bombardeio de informações.

O grande problema é que a mulher acaba realizando a higiene íntima de forma inadequada, e isso é prejudicial em diversos sentidos. A má higiene íntima pode gerar desconfortos, alergias, interferir diretamente na microbiota vaginal e deixar esta mulher suscetível a infecções genitais e outros problemas, dentre diversos outros problemas. Por isso, neste post, eu vou te contar 05 hábitos que muitas mulheres têm até hoje que foram ensinados como "bons", mas, na verdade, só atrapalham a higiene íntima!
Excesso de Higiene é Oposto ao Ideal
É bem comum que, após alguma atividade física, antes de dormir ou logo ao acordar, vamos tomar um banho. Nossos pais sempre dizem que toda vez que tomar banho, precisa passar o sabonete pelo corpo - e as mulheres são ensinadas, naturalmente, a usar o sabonete na região íntima todas as vezes que tomar banho, independente da quantidade de banhos no dia. Qual o problema desta prática?
Os sabonetes, de forma geral, apresentam, 4 funções: limpar a pele, emulsificar partículas sólidas, retirar o excesso de gordura da pele e preparar a pele para receber outros tratamentos (com cremes, por exemplo). O sabonete age, basicamente, emulsificando todas as partícular da pele, inclusive a camada de gordura natural que temos, e permite que sejam retiradas do local através da água - efeito wash-out. Ao retirar a camada de gordura da pele, esta fica exposta e sem sua camada protetora contra agentes térmicos, infecciosos, dentre outros. Se a mulher não utilizar nenhum tipo de hidratante, a pele produzirá novamente a sua camada de gordura, mas, esse processo demora algum tempo, e é nesse intervalo que os problemas podem surgir.
Agora, imagine a mulher que toma 3 banhos ou mais ao longo do dia, e em todos eles ela usa algum sabonete íntimo...A pele da região (que, por questões fisiológicas, já é mais sensível) fica mais tempo exposta ao ambiente e em um meio perfeito para proliferação bacteriana: quente, úmido e escuro. Em outras palavras, muitas mulheres têm mau odor na região íntima ou corrimentos de repetição pelo excesso de higiene íntima! E a solução deste problema, muitas vezes, é simples: mesmo que tome vários banhos ao dia, reserve o uso do sabonete íntimo para situações que precisem mais, como após exercício físico, relação sexual, menstruação, etc. Só de fazer esse pequeno ajuste, você pode sentir uma baita diferença na região!
Ducha Vaginal
Aqui vai outra prática extremamente comum: realizar ducha vaginal, ou douching em inglês. Para você ter uma ideia, existem estudos americanos que mostram que cerca de 1/3 das mulheres, principalmente as mulheres entre 20 e 40 anos, praticam a ducha vaginal, e a maioria porque foi ensinada pela mãe. Vamos entender um pouco mais desta prática?
Realizar a ducha é autoexplicativo: envolve, basicamente, lavar a vagina com algum líquido (geralmente é feito com água) durante o banho ou após o ato sexual. Quem faz esta prática alega que é para retirar as secreções que ficam ali, e para dar uma sensação de frescor local. Há quem diga, ainda, que fazer a ducha reduz as chances de engravidar após a relação sexual. É uma prática que começou séculos atrás em um meio com desinformação e pouca ciência, e persiste até os dias de hoje. Só que hoje em dia temos uma grande aliada na prática médica: a medicina baseada em evidência. E o quê as evidências dizem sobre a ducha?

Primeiro, um assunto polêmico: sim, o uso de ducha esteve associado com redução da concepção. Portanto, podemos inferir que a ducha é método contraceptivo? Não! A ducha, na verdade, está muito associada (e comprovada com relação de causa e consequência) a diversas infecções genitais, podendo ir desde uma simples vulvovaginite até uma doença inflamatória pélvica (DIP). E a DIP é uma das principais causas de infertilidade feminina! Portanto, realizar a ducha "reduz as chances de engravidar" porque estas mulheres podem adquirir uma DIP que traz, dentre diversos problemas, a infertilidade. Hoje, em pleno 2025, existem métodos infinitamente mais seguros para mulheres que desejam contracepção.
E lavar a vagina, tem algum benefício? Na verdade, ao jogar a água dentro da vaginal no intuito de "lavar" retira não só o conteúdo ali acumulado (seja ele um conteúdo fisiológico, algum corrimento patológico, secreções após o coito), como também os lactobacilos que compõem a microbiota vaginal e tem a função de proteger aquela mulher contra infecções genitais. Ou seja, ao lavar a vagina com alguma coisa, a mulher está retirando a única camada de proteção que ela tem ali no local!
Então, o que fazer depois da relação? Basta higienizar a área externa da vulva com água e sabão, fazer xixi (esta prática se associa a menos infecção urinária) e só! A vagina tem uma característica "auto-limpante", ou seja, o próprio conteúdo vaginal fisiológico ajudará a retirar estas secreções que ficam ali, basta dar tempo ao tempo!
Depilar não é só passar a Lâmina!
Falando em hábitos comuns, o ato de depilar também é rotineiro para muitas mulheres. De todos os métodos depilatórios existentes, talvez utilizar a lâmina seja o mais comum, mas, também, o que mais está associado a foliculites e desistência em manter o método. Consiste em utilizar algum instrumento cortante para cortar os pelos na base do folículo - diferente de métodos como o creme, a cera ou o laser, que são um pouco mais profundos no folículo piloso e, consequentemente, mais duradouros.

Como que muitas mulheres realizam a depilação? Durante o banho, após utilizar o sabonete, passam a lâmina sobre os locais desejados, enxaguam e finalizam o processo. Está errado? Não, porém, está incompleto e eu vou te explicar o motivo.
Como eu já comentei, o sabonete retira a camada de gordura protetora da pele, algo que é necessário para realizar uma depilação eficiente com lâmina. Porém, após utilizar a lâmina, a pele fica com microfissuras no local e, caso não tenha um cuidado adequado, pode gerar foliculite, irritação e outras complicações. Por isso que, após se depilar, é recomendado usar alguma substância calmante na pele (como água boricada ou cremes próprios para o pós depilação) e depois realizar a hidratação da pele com algum creme de sua preferência. Assim, as chances de apresentar foliculite se reduzem bastante!
Lubrificantes Íntimos Inadequados
Hoje em dia, é comum o uso do lubrificante íntimo na hora da relação sexual, e nas farmácias há uma diversidade de marcas de lubrificantes. Além dos lubrificantes encontrados na farmácia, existe a cultura popular do uso de lubrificantes "naturais", que prometem ser uma alternativa aos produtos da indústria farmacêutica.
Quando conversamos sobre lubrificantes, o mais importante na hora de avaliar sua segurança é sua composição e sua osmolaridade. O conceito de osmolaridade se refere à concentração de alguma substância. Para cumprir o propósito deste texto, fique com a seguinte informação: quanto maior a osmolaridade (lubrificantes hiperosmolares em relação à vagina), maior o potencial em causar lesão no epitélio vaginal. A lesão ocorre, principalmente, por desidratação do epitélio, tornando-o mais frágil e suscetível a infecções (microtraumas na mucosa vaginal são comuns durante o ato sexual, e essa é a porta de entrada perfeita em um epitélio fragilizado).
E quais os lubrificantes com menor osmolaridade: são aqueles que são com base em água ou em silicone. Os lubrificantes com base em óleos (e aqui destaco alguns lubrificantes naturais como o óleo de coco) possuem concentração muito maior do que a da vagina, então eles tornam aquele epitélio mais suscetível a infecções.

"Mas eu sempre usei óleo de coco e nunca tive nada!" Já ouvi isso mais de uma vez no consultório, e eu sempre digo a mesma coisa: ter ou não uma vulvovaginite não depende exclusivamente de um hábito isolado, e sim de um conjunto de hábitos que levam a mulher a ter corrimentos de repetição. Sim, pode ser que algumas mulheres usem esses lubrificantes e não sintam nada, mas, é sempre importante contextualizar e individualizar estes usos, pois algumas mulheres apresentam mais riscos de vulvovaginites que outras.
Como ginecologista praticante da medicina baseada em evidências, não tem como recomendar o uso de uma substância que sabidamente traz riscos quando existem diversas outras que são seguras e garantem o mesmo efeito - lubrificação da região íntima.
O tal do Cheiro na Região Íntima
Cada vez mais nos vemos envolvidos em um marketing de produtos cosméticos, que criam uma "necessidade" de usar alguns tipos de produtos - necessidades que, até alguns anos atrás, não existiam. Vou dar um bom exemplo disso: perfume e desodorante íntimos.
A ideia destes produtos é trazer uma sensação de frescor, e aroma agradável para a região íntima depois do banho ou de uma atividade física, por exemplo. Claro que não são produtos baratos, mas, são vendidos como se fossem itens necessários para o cotidiano.
Independente da compra, temos um problema: perfumes e desodorantes corporais podem causar irritação em geral, e sempre que provamos um produto novo estamos suscetíveis a algum grau de alergia. Com produtos para a região íntima, este problema é ainda maior, já que é uma região que tem uma suscetibilidade fisiológica maior a desequilíbrios locais e da microbiota. Então, perfumes podem ser irritativos na pele vulvar e, além de trazerem irritação local, serem motivo de corrimento e infecções genitais.
E, ainda neste tópico, surge a discussão: por que a região íntima necessita de um cheiro específico? Pessoas saudáveis que mantêm boa alimentação, peso adequado e possuem bons hábitos não apresentam mau odor pelo corpo - na verdade, temos o odor corporal natural. Existem locais no corpo que são mais suscetíveis a ter mau cheiro por conta do acúmulo de suor, do tipo de roupa e dos cuidados locais, mas, a ideia propagada de que a região íntima feminina "deve" ter aroma agradável é bem questionável, especialmente quando buscamos entender de onde surge essa necessidade.
Por isso, foque nas boas práticas de higiene íntima, e tenha em mente que a vagina, assim como outros órgãos do corpo, tem seu cheiro característico. Na eventualidade de ter mau cheiro, resolva o problema através de uma consulta ginecológica e busque tratamento adequado, e não utilize produtos que vão apenas camuflar o problema verdadeiro!
Conclusão
Conversar sobre higiene íntima é conversar sobre bons hábitos de vida. Claro que a melhor prática para uma mulher não é a melhor para outra, por isso, leve TODAS as suas dúvidas na consulta com seu ginecologista, e entenda se aquela prática se adequa à sua realidade.
Durante as minhas consultas, sempre deixo um bom período separado para conversarmos sobre isso, porque sei que muitas práticas são rotineiras, feitas no automático, e cabe a mim identificá-las e orientar qual o melhor método para você.
Ficou curiosa com o assunto e tem alguma dúvida sobre higiene íntima? Deixa um comentário aqui abaixo que responderei com o maior prazer!
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